Brasil é alvo prioritário de espionagem americana pela internet; governo cobra explicações
É o que diz uma reportagem do jornal O Globo com a coautoria de Glenn Greenwald, que ajudou Snowden a revelar o PRISM. O governo brasileiro cobra explicações dos EUA, e vai tomar várias medidas para coibir violações à privacidade como esta.
Documentos vazados por Snowden mostram que a coleta de dados é “constante e em grande escala”. No continente, somos o segundo país mais monitorado – ficamos apenas atrás dos EUA. Isso seria feito através de empresas americanas, e também através da interceptação de satélites – o PRISM seria apenas a ponta do iceberg.
No Brasil, o principal instrumento de espionagem se chama “Fairview”. O programa seria usado pela NSA (Agência de Segurança Nacional) em parceria com uma grande empresa de telefonia dos EUA, que mantém relações com outras no Brasil e no mundo. Dessa forma, ela teria acesso às redes de comunicações locais – incluindo as brasileiras.
Os documentos não revelam qual é essa operadora dos EUA, nem se as empresas brasileiras sabem que ajudam na espionagem. No entanto, é através do Fairview que os americanos coletam e-mails e registros telefônicos de milhões de pessoas e empresas.
Esta não seria a única forma de violar a privacidade dos brasileiros: satélites também estariam envolvidos. Outros documentos revelam que, pelo menos até 2002, havia uma estação americana de espionagem em Brasília. Operada pela NSA e CIA, ela coletava informações de satélites do país. No mundo, havia 16 bases como esta – nós tínhamos a única base na América do Sul.
Brasília também era uma das 75 cidades no mundo a abrigar uma força-tarefa chamada Special Collection Service (SCS), hospedando espiões da NSA e da CIA que trabalhavam em conjunto. No entanto, nossa capital era uma das únicas a abrigar o programa de espionagem através de satélites de outros países, o Fornsat. (A outra cidade era Nova Délhi, na Índia.)
Greenwald suspeita que o interesse dos EUA pode não estar apenas em invadir a privacidade dos brasileiros, e sim de países como China e Irã. Em entrevista ao Fantástico, ele diz:
Reação
O governo brasileiro não gostou nem um pouco das revelações, e cobrou uma explicação dos EUA.
O Ministério das Relações Exteriores já pediu esclarecimentos ao embaixador dos EUA, enquanto a embaixada em Washington fará isso diretamente ao governo americano. Em nota, o Itamaraty diz também que vai pedir ajuda de órgãos internacionais:
Recorrendo à ONU e UIT, o governo quer criar uma governança multilateral da internet. Atualmente isso é feito pela Icann, subordinada ao governo americano.
Dentro do âmbito brasileiro, providências também serão tomadas. A Polícia Federal e a Anatel vão investigar se empresas no Brasil forneceram, para a NSA, acesso a redes locais de comunicações.
Além disso, o poder Executivo deve pressionar a Câmara dos Deputados a votar o marco civil da internet, cujo andamento está travado há meses. Um dos objetivos do marco civil é proteger sua privacidade na internet: ele proíbe os provedores de guardar um log com os sites que você visita, mas prevê que provedores de internet devem armazenar o seu registro de conexão por um ano (quando você usou a internet, e por qual IP).
Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, diz ao Globo que a espionagem de brasileiros é crime:
O mais provável é que o monitoramento seja feito pelos cabos submarinos e satélites. Nas transmissões internacionais e ligações, a maioria dos cabos passa pelos Estados Unidos… Se isso realmente ocorreu, configura crime contra a legislação brasileira e a Constituição. Nossa Constituição assegura o direito à intimidade e privacidade.
Desde que revelou sua identidade há cerca de um mês, Edward Snowden tenta fugir do governo americano, que o processou formalmente e quer apreendê-lo para julgamento.
Snowden pediu asilo ao Equador, que lhe foi negado após intervenção dos EUA. Então o Wikileaks fez o pedido a vinte outros países. O Brasil estava na lista, mas negou-se a abrigar o informante: o Ministério das Relações Exteriores deixou claro que “não há intenção de responder”. Outros países também recusaram o pedido. O Wikileaks, então, pediu asilo em seis outros países, cujos nomes não foram revelados devido às “tentativas de interferência dos EUA”.
Os presidentes da Nicarágua e Venezuela, no entanto, já se ofereceram a abrigar o ex-funcionário da CIA. Evo Morales, presidente da Bolívia, também ofereceu o convite. Morales ficou preso na Áustria por 13 horas, devido a suspeitas de que Snowden estaria a bordo de seu avião. (França e outros países europeus não o autorizaram a atravessar seu espaço aéreo.)
Enquanto Snowden continua sua fuga, os segredos de espionagem dos EUA continuam a vazar. Depois que a União Europeia também descobriu que foi monitorada, esperamos que os países de todo o mundo enfim se reúnam para decidir os limites de ações antiprivacidade como esta. [O Globo,O Globo]
Brasil é alvo prioritário de espionagem americana pela internet; governo cobra explicações
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julho 08, 2013
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